

A polícia prendeu, na noite de ontem, dois dos três suspeitos de participar do assassinato do delegado titular da 18ª Delegacia de Camaçari, Clayton Leão Chaves, de 35 anos. Os acusados teriam confessado e crime e serão apresentados às 11 horas de hoje, na sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Edson Cordeiro, vulgo "Inha", e Rinaldo Valença de Lima, de 26 anos, incialmente alegaram que queriam realizar um assalto. O objetivo era roubar um som de um carro potente, mas, ao perceberem que se tratava de um policial, a vítima foi morta. Os acusados foram encaminhados ainda na noite de ontem para o Centro de Operações Especiais (COE), em Salvador. Apesar de estar sendo realizada uma operação de caça ao terceiro suspeito, a prisão não foi realizada até o fechamento desta edição.
O delegado, que vinha combatendo o crime organizado e o tráfico de drogas na cidade, estava sendo cobiçado por traficantes, devido a sua veemente atuação. E foi justamente no momento em que estava conduzindo o seu veículo, um EcoSport de placa JKP-8019, na companhia da esposa, a dentista Simone, e parou o carro na Ladeira das Pedrinhas, estrada de Cajazeiras de Abrantes, para dar uma entrevista ao vivo para uma rádio local, que foi executado por três marginais que estavam num táxi.
O delegado Clayton havia saído de sua residência e teria passado pela estrada de Cajazeiras de Abrantes para ver uma obra de um condomínio em que pretendia morar. E depois iria levar a esposa para o trabalho e seguiria para a unidade onde trabalhava há um ano e seis meses. Ele explicava por telefone para o radialista Marco Antônio Ribeiro que não iria comparecer à rádio Líder, mas que iria parar o carro para dar entrevista por telefone.
Na entrevista, o delegado falou do seu trabalho em combate à criminalidade e contestou a informação de que Camaçari seja a quarta cidade mais violenta do Brasil, como havia sido divulgado em uma pesquisa e cogitado pelo radialista Marco Antônio. Foi nesse exato momento que um táxi se aproximou do veículo em que se encontrava o casal. Três homens fortemente armados e usando máscaras desceram e foram ao encontro do delegado. No momento, Clayton chegou a dizer: “Peraí, peraí”. Em seguida, tiros e a voz de pelo menos dois interlocutores, suspeitos de serem os atiradores, foram transmitidos, ao vivo, pela rádio.
Os gritos da mulher do delegado, desesperada ao ver o marido baleado, revelaram a violenta ação: “Pelo amor de Deus, mataram Clayton aqui na estrada da Cascalheira. Pelo amor de Deus. Marco Antônio nos ajude. Pelo amor de Deus. Gente me ajude”, gritava a esposa da vítima. Sem entender o corrido, o radialista Marco Antônio pedia ajuda da polícia, pois os gritos de socorro da esposa evidenciavam que algo de ruim havia acontecido com o delegado. Os ouvintes da rádio entraram em desespero e mais de dez pessoas foram até a 18ª Delegacia, onde o delegado trabalhava, para contar o que escutaram na rádio. Antônio Cruz, que trabalha na TV Conexão, disse que também ouvia a entrevista e correu para a delegacia, onde os policias foram avisados. “Eu fiquei em estado de choque.
O delegado era muito amigo da imprensa e custa acreditar que foi vítima dessa violência. Foi horrível escutar os gritos de apelo da esposa dele, que chamava por Deus e pedia socorro”, contou.
Três tiros foram disparados. Um acertou a porta do carro, e dois a cabeça do delegado, que teve morte imediata. A esposa dele estava com as roupas sujas de sangue, por tentar, em vão, socorrer o marido, que não mais se mexia. Ela permaneceu por algum tempo abraçada ao corpo do esposo, clamando por ajuda. O enterro do delegado acontece hoje, às 10 horas, no cemitério Campo Santo.
Moradores relatam momentos de terror
Moradores da Ladeira das Pedrinhas, local que dá acesso à Estrada da Cascalheira, onde o delegado Clayton foi morto, relataram o clima permanente de insegurança. O local é cobiçado por criminosos e a incidência de assaltos é grande, segundo quem vive na região. Sem se identificar, uma moradora de uma residência localizada próximo ao local onde o delegado parou o carro estava escutando a Rádio Líder e acompanhou o momento da execução.
“Vi o carro parado por alguns minutos. Eu ia trabalhar e fiquei com medo de sair de casa, pois o carro de cor preta e com os vidros fumê e o pisca alerta ligado estava parado e ninguém descia. Comentei até com uma vizinha que me orientou a não sair de casa. Percebi que o carro não saía do local e resolvi sair. Passei na frente do carro, vi uma mulher e um homem ao telefone e fui trabalhar. Em seguida, só escutei os disparos. Não deu tempo de ver mais nada”, disse a moradora.
Outra mulher contou que trancou as portas de casa com medo. Ela pensou que algum marginal tivesse sido executado. “Eu estava escutando a rádio e, de repente, os tiros e os gritos de socorro. Quando o radialista disse que foi na Estrada da Cascalheira que percebi que era a situação que tinha acontecido perto de minha casa e que se tratava do delegado. Dava pena de escutar os gritos da mulher dele, mas, demoramos de sair de casa para ajudá-la.
Aqui está demais. E por conta de ser uma estrada que corta o pedágio, virou rota de marginais. Vários moradores já foram assaltados. Até o meu marido quase foi morto, por demorar em tirar o celular do bolso para entregar aos marginais”, contou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário