23 de fev. de 2012

Quem disse que colunismo social não se discute?


Por Antonio Nahud Júnior
Que ninguém se iluda: o colunismo social não é uma falácia, merece ser valorizado e faz parte de nossas virtudes jornalísticas. Claro que alguns colunistas incultos, deslumbrados com o luxo, têm sua parcela de culpa na crescente estupidez social, na caretice e nas frustrações das províncias, afinal eles maltratam o vernáculo e a gramática e glorificam o besteirol, mas existem outros comprovadamente bem informados e necessários baluartes da resistência cultural. Pensando nessa profissão glamorosa após reler Marcel Proust e assistir “A Embriaguês do Sucesso”, onde Burt Lancaster interpreta um colunista infame e oportunista, terminei por concluir que os visigodos são muitos, multiplicam-se como ratos, mas também há gente da maior nobreza labutando nessa profissão. Desejando escrever algo sobre as classes média e alta cada vez mais sem classe, já que o asneirol me enche de vergonha (não me canso de alertar que vivemos num monopólio do mau gosto, da baixaria, da ignorância e da cafonice), escolhi o colunista social como protagonista desse embrião literário (pensei inicialmente no abominável mundo fashion e suas lambisgóias, mas não tenho conhecimento profundo desse circo para tanto). Pretendo me inspirar em treze colunistas sociais grapiúnas (ADILSON CEZIMBRA, BETANIA MACEDO, CHARLES HENRI, DIOGO CALDAS, HELENA MENDES, JOSEVANDRO NASCIMENTO, LUIS WILDE, MANUELA BERBERT, MARIA ANTONIETA, NENÉU MENDONÇA, PEDRO IVO BACELAR, SERAFIM REIS e ZÉ CARLINHOS) para a criação do livro de contos “Quem Disse Que Colunismo Social Não se Discute?”. Cada uma das narrativas curtas será postada mensalmente neste blog (numa troca de impressões com o leitor antes da publicação definitiva em livro). Claro que os personagens se apresentarão com nomes fictícios, evitando eventuais processos, e ao leitor caberá associá-los as figuras reais. Serão narrativas entre a chanchada e a dramaturgia intimista, buscando um equilíbrio entre as forças da sensibilidade e o puramente folclórico. Prepare-se, pois, para uma torrente de informações e reflexões atrevidas e relevantes, sérias e engraçadas, algumas surpreendentes e até chocantes sobre o elitismo, a vigarice, as gafes e a pasmaceira social. Quero registrar alguns hits da vida alheia, em especial os que já caíram no esquecimento e aqueles que, porventura, tenham deixado saudade em bisbilhoteiros de plantão. Claro que serei benevolente com os amigos, mas nem todos os meus alvos são queridos. Isso não é justo, concordo, mas quem disse que a vida é justa?

Sempre tive amigos colunistas sociais. O primeiro deles, LUIS WILDE, culto e sensível, foi o primeiro a divulgar o meu trabalho nos jornais do sul da Bahia. Ainda adolescente, deslumbrava-me com a cortesia do jornalista. Na mesma época, outro estimado, PEDRO IVO BACELAR, escrevia notas entusiasmadas a respeito de minha mobilização cultural. Eu passava horas conversando com Pedro, aprendendo com sua argúcia mascarada em ironia perversa. Cheguei a visitá-lo em seu leito de morte, em Salvador. Foi melancólico ver um homem de tão vasto saber completamente fragilizado pela enfermidade. Era também um prazer encontrar casualmente DIKAS (Adilson Cezimbra), morrendo de rir com suas histórias inusitadas. No entanto, tive um terrível inimigo colunista social: SERAFIM REIS. Esnobe e afetado, de presunçosa ignorância (chegou a escrever um livro, nunca publicado, intitulado – se não me engano - como “Esplendor e Decadência das Famílias do Cacau”) e com a profundidade de um pires, cúmplice do meu arqui-inimigo Osmundinho Teixeira (a criatura mais má que conheci até hoje, tanto que ao ouvir qualquer referência ao nazismo lembro imediatamente dele), ele virava a cara quando me encontrava e dizia para todos que eu era de uma família falida (para ele, um mal contagioso). Só não cheguei a odiá-lo porque nunca tive talento para odiar quem quer que seja, mas ele me fez muito mal durante um bom tempo. CHARLES HENRI e MANUELA BERBERT, embora me tratem com gentilezas publicamente, sempre se comportaram ambiguamente em relação a minha pessoa, fechando as portas de suas colunas para as manifestações artísticas que produzi. Certa vez, ainda nos anos 90, Charles escreveu uma página inteira a meu respeito, elogiando a minha habilidade literária. Como eu nunca aceitei trabalhar de graça para as suas publicações, colocou-me em sua lista negra. Já Manu, no início de sua carreira jornalística, desprezada pelos colegas, costumava divulgar o meu trabalho. Depois que não deu certo nosso projeto de parceria em um programa de tevê, ela aproveitou a brecha e conseguiu espaço nesse mesmo local, seguindo com sua ambição sem limites, sempre com um sorriso inocente nos lábios, e me deu as costas. Quando numa atitude solidária critiquei alguns aspectos vulgares de sua coluna (por exemplo, publicar imagens de jovens sem camisa) e a utilização da mesma como veículo de propaganda da Santa Casa de Misericórdia, ela se revoltou de vez. É que as pessoas gostam de elogios, mesmos falsos e interesseiros, jamais compreendo que uma crítica honesta é por demais positiva. Sou amigo de TONET (Maria Antonieta) – uma das mulheres mais inteligentes de Itabuna - e VALÉRIO DE MAGALHÃES. Fizemos muitas farras juntos. Aprecio o charme e a boa educação de DIOGO CALDAS. BETÂNIA MACEDO sempre me pareceu uma pessoa do bem. Defendia-a sem limites contra os petistas itabunenses que diziam as piores coisas a seu respeito, incluindo familiares no pacote. Hoje Betania bajula em sua coluna esses mesmos petistas e me ignora (mas não tenho mágoas, compreendo que facilmente se deixa influenciar por baboseiras de gente malvada).

Ao longo do tempo, fui destaque em colunas sociais de diversos estados brasileiros, da famosa JOYCE PASCOVITCH (ainda na Folha de S. Paulo) a REGINA COELI no jornal A Tarde, em Salvador. Hoje estou em todas as colunas sociais de Natal. Não por vaidade, mas como resultado de minha atuação cultural. O artista precisa de divulgação para continuar seu ofício. Quando um colunista boicota um escritor ou um pintor, está sacrificando a arte de sua própria cidade. Como conheço de perto a vivência de muitos colunistas sociais, creio que tenho fôlego para retratá-los em livro. Sei de seus êxitos e boas ações, e também de suas inimizades, tramas, golpes, dívidas, traições, escândalos e vícios.  Material atraente e explosivo para leitores que se interessam pelos bastidores da notícia. E não há como negar que os colunistas sociais fazem parte de nosso imaginário social. Conheço gente capaz de vender a mãe para sair numa página de jornal e outros que se roem de inveja quando me enxergam na mídia (por pura pirraça costumo enviar tais publicações para os invejosos sem cura). Apoiada nesta vasta experiência, iniciei o primeiro conto. Estará neste blog dentro de alguns dias. Lembro que certa vez, num dos nossos encontros para ouvir jazz e discutir literatura, Luis Wilde disse-me: “Um dia você escreverá sobre a farsa da nossa sociedade. Como um novo Jorge Amado. Será uma lição permanente para todos nós”. Era uma premonição.




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