7 de abr. de 2013

A despedida do Contra mestre Vovô




No começo dos anos 80, conheci um vendedor de sapatos de uma rede de lojas de Itabuna. Esse cidadão, veio com sua família morar em frente a minha casa, na Rua Ruy Barbosa.
O cara falava alto, tirava sarro com todo mundo, mais ficava uma fera quando era chamado de “Boi Zebú”. O nome desse cara era Antonio Newton, também conhecido como “Romeu”, porque era um Don Juan.
Ficamos amigos, nossas familias ficaram amigas, eu frequentava sua casa e ele a minha casa.
Acompanhei boa parte da vida de Newton. Vi quando ele comprou sua primeira moto, uma Turuna vermelha. Parecia uma criança que tinha acabado de ganhar um brinquedo.
Foi com Newton que eu aprendi a manusear “Tchaco”, ele era invocado com Bruce Lee. Já tinha uma queda pelas artes marciais e futuramente descobriu a Capoeira.
Estava com ele também quando ele comprou seu primeiro carro, um Fiat 147 amarelo claro. Pense num cara barbeiro!
Estávamos  juntos também, no dia em que Zico perdeu a Copa de 86. Em junho daquele ano, nós viajamos para a cidade de Jaguaquara onde Newton ou “Tonho” (como era chamado carinhosamente  pela família,pelos vizinhos e amigos mais próximos)fazia o São João, já que ele  já havia se tornado Empresário de festas.
Estava com ele também no dia em que ele inaugurou o Transe bar. Era um point dos artistas e boêmios da época. O bar ficava na Cabeceira da Ponte velha do Conceição. Na inauguração, eu dei uma até de  garçom, devido o tanto de gente que chegou para o evento e ele estava sozinho para dar conta de tudo.
Estava com ele também, quando em razão de um acidente, ele quebrou a perna e ficou imobilizado por alguns messes. Eu sempre presente o levando para hospital, para o seu trabalho no bar e ajudando no que era possível ajudar.
Não lembro bem o ano, mas acompanhei também a perda do seu ídolo maior, seu pai, Sr. Higino.
Já na década de 90, Tonho conhece Lia. Ela trabalhava num escritório de representações no Vila Rica, e nos tornamos amigos. Como a paixão dele era moto, ele comprou uma MZ verde, e eu uma MZ Azul. Sempre saíamos juntos para as festas, eu com minha ex esposa Eva, e Tonho com Lia.
Estava com ele também no dia em que ele comprou sua primeira casa na Urbis IV, onde eu vim morar duas ruas antes da casa dele. Fomos vizinhos durante anos novamente. Sempre estava lá bincando com “Madona” (uma Pastor Alemão que era sua paixão). Algum tempo depois, nasce Higino Neto. A felicidade estava completa.
Eu fui embora de Itabuna, e nesse meio termo, perdi a trajetória de meu amigo, e o momento em que ele descobriu a paixão pela Capoeira. Acompanhei suas primeiras aulas com Valdeci quando a academia era na Cinquentenário. Voltei de Salvador dez anos depois e já encontrei o Contramestre Vovô, com um trabalho social de dar inveja a qualquer Secretário de Assistência Social das sucessivas gestões municipais.
Anos depois voltamos a ser vizinhos. Já não estávamos mais tão juntos quando ele comprou sua casa no Zildolândia. Na minha volta de Salvador, compramos uma casa na Mangabinha a alguns quarteirões de onde Vovô veio morar com sua família.
Muitas vezes brigamos feio por razões que eu nem lembro mais. Mas, quem é que não diverge de opiniões até com os amigos uma vez na vida?
Numa parceria com o Grupo Raça, lá estávamos nós mais uma vez juntos no Teatro Sala Zélia Lessa nos aulões de Capoeira.
Fiquei chateado com ele por não ter me informado do falecimento de D. Sisi, sua mãe há dois messes atrás.
Na manhã de sexta-feira dia 5 de Abril, dia em que comemoraríamos o aniversário do jornalista Juarez Vicente, morto há um mês  atrás, recebi a notícia da morte do meu amigo Antonio Newton, o Contramestre Vovô.
Eu estava com ele naquele momento de tristeza para sua família, para todos os capoeiristas da região, para Itabuna e para os seus alunos, que tinham nele um espelho de perseverança.
Que você encontre seu caminho na eternidade, meu amigo!

Ari Rodrigues
Amigo particular

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