15 de abr. de 2014

Artistas fazem festa na reabertura do Teatro Zélia Lessa em Itabuna

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Por Celina Santos
Na primeira fileira do espaço, com capacidade para 150 lugares, a maestrina de 87 anos esbanjava classe e concentração ao apreciar performances artísticas de seus conterrâneos. Naquela noite de 10 de abril, ela prestigiava a reabertura de um equipamento com seu nome: o Teatro Zélia Lessa. O lugar foi reformado pela FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania), em atendimento a um pleito da ACATE (Associação Cultural Amigos do Teatro).
Segundo o presidente da FICC, Roberto José da Silva, a obra durou três meses e custou R$ 50 mil, em recursos próprios do município. "Tivemos que construir outro equipamento; antes, aqui era Sala Zélia Lessa, com capacidade de 50 a 100 pessoas. Hoje temos um palco móvel, camarim com banheiro, porta lateral de emergência, telhado novo com apelo ecológico, calhas interconectadas, para captarmos água da chuva, fizemos um jardim na lateral, aproveitando um não-lugar, pois antes era um espaço de guardar lixo, e pode ter eventos aqui fora também. Então, é um novo espaço para a cidade; esse é o espaço do artista, da cultura grapiúna", detalhou.
Ele esclareceu, ainda, que o local sediará oficinas gratuitas de teatro e dança, a serem ministradas por artistas e oficineiros do PACAIS (Programa de Arte e Cultura em Áreas de Interesse Social) e outros agentes culturais.
Intensa procura
Diretora voluntária do Teatro Zélia Lessa e representando a Acate na gestão compartilhada do equipamento, a atriz Eva Lima era pura alegria ao ver os artistas prestigiarem a noite e ressaltou que abriram mão dos cachês para se apresentar na reabertura, "por entender a importância do momento". Ela adiantou, inclusive, que já estão fechadas as pautas de maio e parte de junho. Para encerrar a fala, bem ao seu estilo, selou a homenagem à renomada musicista conclamando a plateia a bradar: "Ora Viva Zélia Lessa!"
"Zélia Lessa é tão grandiosa que ela estabelece um ciclo na vida dos artistas, para resolver as coisas. Resolvemos de 1986 a 1992, com o teatro funcionando; voltamos em 2011, fazendo parcerias bacanas em dois anos; e agora em 2014 veio essa gestão compartilhada para a reforma. (...) Daqui a um tempo, há de se presenciar coisas grandiosas acontecendo aqui. Tudo em função do peso que representa a pessoa chamada Zélia Lessa", afirmou ao Diário Bahia.
O secretário de Assistência Social, José Carlos Trindade, destacou que o poder público deve assegurar cultura e lazer, entre outras obrigações para com os cidadãos. "Hoje, esse espaço é mais um recurso de arte, de cultura, para que os itabunenses estejam sempre felizes", afirmou.
Também presente ao evento, representando o prefeito Claudevane Leite, a secretária de Educação, Dinalva Melo, lembrou o papel de Zélia Lessa na formação musical de vários itabunenses. "Se hoje eu sei o Hino Nacional de forma escorreita, devo a esta senhora, que foi minha professora de música". Além disso, ela evidenciou a importância de a cultura ser colocada numa área ainda mais ampla no processo educativo.
Cultura, pra quê te quero?
Uma citação atribuída ao filósofo Nietzsche diz que "a arte existe para que a realidade não nos destrua". E ver o Teatro Zélia Lessa "lotado", logo na reabertura, mostra que são muitos os que compactuam com esse pensamento.
Professores, artistas plásticos, atores, cantores, jornalistas, radialistas, políticos, uma gama de pessoas das mais variadas idades e profissões, ali estavam para se deliciar com o grupo "Laboratório Criativo", coordenado pela atriz Elaine Belavista; os versos de consciência ambiental entoados por Non Moreira; o show de dança da equipe do professor Aldenor Garcia; as vozes inconfundíveis de Jaffet Ornellas, Paulo Maia e Carlos Santana.
Todos fizeram questão de conferir as novas instalações do espaço, o palco móvel – único do interior da Bahia –, a praça pronta para happy-hour antes e/ou depois dos espetáculos. O público compareceu "em massa", como se dissesse "sim" ao ver que Itabuna voltou a ter um teatro próprio.
Bandeira da ACATE
Vale lembrar que a ACATE (Associação Cultural Amigos do Teatro), tendo à frente Ari Rodrigues e Eva Lima, tomou a dianteira quando soube, na gestão passada, que o local onde funcionou o Teatro Zélia Lessa seria demolido. A entidade conseguiu, por meio de decreto, autorização para gerir o equipamento.
No ano passado, lembra Rodrigues, surgiu a ideia de propor à FICC a gestão compartilhada da Sala Zélia Lessa. Firmada a administração conjunta, começou a se desenhar o projeto da reforma e posterior reabertura do Teatro Zélia Lessa. Quando chamado ao palco na hora dos pronunciamentos, ele agradeceu à FICC por abraçar a causa e viabilizá-la.
Além de Eva e Ari, outros membros da Acate compareceram à solenidade, como Marcos Nô, Zem Costa e Robson Brito. A intervenção da entidade, em prol do resgate de equipamentos culturais em Itabuna, num trabalho com quatro anos de funcionamento, é um exemplo de política no sentido nobre da palavra – algo muito distante do lado deplorável, que se convencionou chamar de "politicagem".
Matéira postada originalmente no Jornal Diário Bahia

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