23 de fev. de 2012

ARTIGO-O Homem revoltado de Albert Camus chegou a Bahia

 Por Elton Silva Oliveira*
"Sobre estes tempos e eventos pós-modernos de caos e rebelião na Síria, de estudantes enfrentando a polícia no Chile, de jovens indo às ruas contra o arrocho e o governo na Grécia, de marchas na Espanha e França contra o desemprego crescente e agora do motim empreendido por militares na Bahia, ocupando a Assembléia Legislativa do Estado. Albert Camus já tinha tocado o alarme através da sua celebre obra "L’HOMME REVOLTÉ".
 Albert Camus, filósofo e escritor francês, é um personagem que a nova geração do terceiro milênio deveria realizar um esforço de resgate e compreensão. Pertencia à geração dos EXISTENCIALISTAS, à mesma geração que produziu filósofos da estrutura intelectual de Jean Paul Sartre.
De origem humilde, tornou-se um dos pensadores de quem  não apenas a França, mas a humanidade pode orgulhar-se. NOBEL de literatura em 1957, perdeu a vida em um acidente automobilístico em 1960, aos 43 anos.
Sua obra é rica e vasta. Um de seus livros, em especial, nos interessa neste momento: L’HOMME REVOLTÉ e que ele próprio define “COMME UM EFFORT POUR COMPRENDRE MON TEMPS”.
Neste livro ele torna mais explícita uma preocupação que ele cultivava de forma sistemática em toda sua obra: a postura do homem diante da vida e da morte. E a postura proposta especialmente na obra mencionada é a do HOMEM REVOLTADO e que acreditamos precisa ser recuperada no MILÊNIO que adentramos.
O que vem a ser O HOMEM REVOLTADO? “Um homem que diz não”, afirma-nos CAMUS. Significa ter consciência de que “as coisas já duraram demais”; ou ainda, “até aqui sim; além, não mais”. Ou de que “há um limite que você não está autorizada a ir além”.
E essa noção de estabelecer limites parece ter sido perdida pela sociedade organizacional do 3º MILÊNIO, onde tudo parece ser válido: desrespeito ao meio ambiente, com uma poluição desenfreada; consumismo exacerbado como se os recursos planetários fossem eternos; individualismo maximizado, quando os direitos do outro são simplesmente esquecidos; democracias de fachada, em que os votantes são literalmente “CABRESTADOS” por um poder EXECUTIVO manipulador e corrupto, e com dificuldade de dar um BASTA, de dizer um NÃO a todos esses acontecimentos.
O HOMEM REVOLTADO tem consciência do ambiente em que vive, das mazelas que atravessa e, por não aceitá-las, adota a postura de dar, alto e bom som, um solene NÃO a todos os descompassos sociais que presencia.
Diz-nos textualmente CAMUS: “em suma, este NÃO afirma a existência de uma fronteira. Nós encontramos a mesma idéia de limite nesse sentimento do revoltado de que o outro enxerga, que ele estende seu direito além de uma fronteira a partir da qual um outro direito se lhe antepõe e o limita. Assim, o movimento de revolta se apóia, ao mesmo tempo, sobre a recusa categórica de uma intrusão julgada intolerável e sobre a certeza, ainda que confusa, de UM BOM DIREITO”, mais exatamente a impressão, no revoltado, que “ELE TEM O DIREITO DE... A revolta não existe sem que o sentimento de “TER RAZÃO a acompanhe”.
Cremos que nossa SOCIEDADE ORGANIZACIONAL, para subsistir deverá aprender a cultivar aqueles indivíduos que sabem dizer NÃO nas ÉPOCAS e nos MOMENTOS apropriados. A “JUSTA INDIGNAÇÃO” adquire “STATUS” de “CONDITO SINE QUA NON” à sobrevivência com dignidade.

* Economista e Mestre em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC;
Pesquisador e Membro do Núcleo Temático de Turismo para o Desenvolvimento Regional - NTT/UESC;
Professor de Economia; Filiado e Pré-Candidato a Vereador pelo Partido Democrático Trabalhista –
PDT, em Itabuna (BA); E-mail: srelton@hotmail.com.
Referência:
CAMUS, Albert. L’Homme Revolté. Paris: Librairie Callimard, 1951.
Artigo publicado com autorização do Professor Elton Oliveira

3 comentários:

  1. Mais uma rica contribuição do Professor Elton Oliveira, para nosso conhecimento.
    Realidade vista sob a ótica de um estudioso das relações humanas e políticas, agente formador de opinião e que preocupa-se em tirar de nossos olhos, o véu da inércia e da passividade mental.

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  2. Bom texto professor!
    Cassio M.

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  3. Concordo em grau, genero e numero com o Prof. Elton e mais ainda com Camus . Mas esta INERCIA mental das masas , concordando e aceitando todas as mazelas que ali estão, também e produto do marketing politico-ideologico (lavagem cerebral) feito pelos que assumem o poder. Digo por experiencia eu que vivi e lutei contra duas ditaduras e hoje assisto impávido a nossa America Latina sendo novamente vilipendiada pelas novas ditaduras chamadas de "esquerda" (lei ase: populista e demagógica)sem nada fazer a nao ser esperar que seus caudilhos ditadores morram de cáncer e nao mais acreditando em revoluções. George Orwell na sua "Revolução dos Bichos" estava certo do que iria acontecer também com a alienação do homem revoltado. "PRA NAO DIZER QUE NAO AVISEI DAS FLORES!

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